segunda-feira, 13 de junho de 2016


Lutando em cima de um telhado



Artigo publicado originalmente na Deep Water Magazine e traduzido e publicado com a autorização do autor: Shifu Neil Ripski http://redjademartialarts.com/



Quando conheci George Xu (Xu Guoming), eu tinha viajado propositadamente para S. Francisco para me encontrar com ele em sua casa, baseado apenas em minha pesquisa e rumores que tinha ouvido a seu respeito. A sua reputação como mestre de alto nível em artes marciais chinesas é de que, quem está por dentro, o conhece. Ele não é uma personalidade famosa ou um deus do cinema ou qualquer gênero de lutador premiado. A sua fama não provém de aspirar ao estatuto de famoso, mas em vez disso é falada em voz baixa por pessoas que o conheceram, tocaram e treinaram sob a sua orientação. Ele é conhecido como um mestre “de verdade” ou de “alto nível” nesses meios, e esses termos parecem implicar uma certa forma de pensar a seu respeito por outros, mas na verdade não dão uma indicação de quais são suas capacidades ou de quem ele é.

Shifu George Xu
Decidi que durante minhas férias antecipadas disporia de meu tempo para uma viagem de avião de onde eu estava, visitando minha família em Portland, até São Francisco e tiraria o dia passando horas conhecendo e treinando privadamente sob sua orientação, antes de regressar e continuar com minhas férias. Os meus principais motivos eram essa reputação, com a qual me tinha cruzado, e ter assistido a filmagens suas e de pessoas por ele ensinadas executando suas artes marciais. Outra dessas principais razões era que ele (tinha escutado) tinha lutado nas batalhas de rua, durante a revolução cultural, tanto de mãos nuas como com armas antigas (facas, espadas, machados) e tinha realmente morto homens com suas artes marciais. Se isso era verdade, essa poderia ser a minha única oportunidade de treinar com alguém para quem técnicas não são mera especulação, alguém que sabia o que era utilizar suas artes marciais na mais grave e extrema das circunstâncias, sem ringue, sem árbitros. Se isso era verdade eu tinha que verificar o que essa experiência lhe tinha transmitido, uma vez que (esperemos) eu nunca a terei.

Após uma corrida de táxi do aeroporto até sua casa, uma habitação de dois andares com terraço junto ao mar, me encontrei com ele enquanto caminhava em direção a casa com dois sacos de mantimentos. É claro que o meu instinto foi oferecer ajuda ao pequeno idoso de mais de 70 anos na tarefa de carregar os mantimentos para casa, coisa que ele recusou. Subimos os degraus da escadaria e rapidamente me disse para me mudar para minha roupa de treino e fazer o aquecimento para que pudéssemos praticar. Alguns momentos depois quando regressou ao exterior, no telhado da garagem onde iríamos praticar, começou por me dizer que eu era talentoso e que precisava de praticar menos formas e trabalhar mais os princípios e os conceitos. Em seguida, um de seus primeiros truques de mestre se mostrou.

Caso vocês não saibam, os mestres mais velhos tendem a testar as pessoas logo que as conhecem para que possam avaliar suas capacidades. Algumas dessas perguntas difíceis ou testes têm sido passados de geração em geração, de maneira a que à medida em que envelhecemos e nos tornamos um ancião possamos julgar as aptidões das pessoas rapidamente, ou passar nos testes de nossos mestres mais velhos. Algumas delas incluem dizer que seu cardaço está desapertado para verificar a maneira como você o aperta de novo (mesmo que esteja apertado você nunca se abaixa dobrando o joelho para verificar. Você sempre levanta seu pé e mantém o equilíbrio enquanto o faz). Ou talvez o mestre lhe pergunte as armas que aprendeu a manejar, ou que armas duplas, pois essas tendem a ser algo reservado apenas a alunos de nível elevado. Existem múltiplos testes como esses, alguns testando a conetividade e integração de sua mente e corpo e alguns somente para dar uma olhada em sua mente e verificar o quanto você é inteligente.

Ele me perguntou se eu queria aprender uma forma nova com ele como lição. Claro que não! Não apenas por não ter sido esse o motivo da minha viagem do Canadá até Portland e depois São Francisco mas também porque ele tinha acabado de me dizer para não me dedicar mais a formas. Respondi a sua pergunta com o mesmo pedido que lhe tinha feito pelo telefone ao combinarmos a lição. Eu queria lutar com ele.
Sim eu queria lutar com o cidadão idoso. Eu queria cruzar as mãos com um Mestre ancião reconhecido mundialmente como um tesouro cultural vivo da china. Um Artista Marcial que tinha morto pessoas com as suas mãos e armas. Queria sentir o toque dessa experiência e verificar como realmente era. Queria verificar se a lenda do velho mestre realmente era verdadeira. Tinha treinado por quase 30 anos e estava me sentindo estagnado já por 2 anos, precisava enxergar o que ainda havia para aprender. Precisava enxergar o significado de “alto nível” nas artes marciais chinesas e a única maneira de adquirir essa experiência é a maneira tradicional. Você desafia o Mestre para cruzar mãos. Dessa forma você é tocado por sua perícia e pode verificar qual é a realidade.

O autor: Shifu Neil Ripski


Bem, ele disse muito calmamente “ok” e me perguntou se eu estava pronto, levantando as mãos. Eu tinha chegado àquele lugar com 38 anos de idade, pesando 110,5 quilos e treinando Artes Marciais Chinesas há 28 anos. Isso me fazia maior, mais forte, experiente e mais novo que ele pelo menos 30 anos. Levantei minhas mãos assim como ele, e pela primeira vez em minha vida fui jogado no chão num instante. A minha cabeça bateu no concreto e lascas de meus dentes voaram da minha boca. Num instante ele tinha me desfeito completamente. Não fazem ideia de como fiquei feliz. Encontrar um professor que está ordens de magnitude à sua frente, após tantos anos de treinamento é uma grande dádiva. Nesse dia lutamos mais duas vezes enquanto eu lhe pedia para me deixar sentir diferentes estilos de suas artes marciais. Passámos horas no telhado de sua garagem treinando, falando e rindo enquanto ele explicava quais eram os problemas que via em minhas técnicas. Ele me transmitiu o conhecimento que tinha utilizado para me derrotar quando nos tocámos pela primeira vez e me mostrou todos os métodos de treino para atingir essas aptidões. Os níveis do predador, os diferentes níveis de Dantien e o seu Poder Tsunami. Ele me deixou tocar em seu corpo enquanto praticava e demonstrou e partilhou tudo abertamente comigo. Coisas que são muito raras de encontrar numa geração de Mestres mais velha, abertura em vez de sigilo. Aptidões reais em vez de fantasia. A boa vontade de deixar o estudante tocar e sentir as próprias técnicas em vez de apenas falar sobre elas deixando-as no reino da teoria.



Pensei em discutir os níveis do predador aqui, assim como as coisas que ele me ensinou mas sabendo que outros escritores nesta edição (Deep Water Magazine) provavelmente irão abordar seus ensinamentos irei me refrear. Deixei São Francisco com conhecimento suficiente para “mastigar” durante anos. Também ganhei um novo amigo, professor e mentor. As palavras que me dirigiu foram muito lisonjeiras e me pareceu muito seguro de que eu atingirei um nível elevado com meus esforços. Teve até abertura suficiente para no final dessa primeira sessão eu ter a oportunidade de lhe fazer a desconfortável pergunta sobre a revolução cultural, sim, ele tinha morto pessoas e prosseguiu me mostrando como. Não se ouve falar de um conhecimento como esse nesses dias de lutas esportivas e “mestres” de kung fu de fantasia. É uma experiência completamente diferente ter alguém nos dizendo como utilizou a sua arte nesse tipo de situação, e depois sentir a experiência em seus ossos. Foi o início de uma grande amizade e experiência de aprendizado. Foi uma honra tê-lo feito vir a Creston BC para a nossa Deep Water Martial Arts Convention e ensinar durante um final de semana. Fiquei bastante contente por tê-lo convencido a vir e partilhar seus conhecimentos com meus amigos e alunos. Ele é um exemplo estelar do que um Mestre deve ser: Honesto, Direto, Confiável e Autêntico. Anseio viajar de novo para São Francisco e verificar o que acontecerá no nosso próximo cruzamento de mãos…

Um comentário:

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